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Assunto de Polícia

Genoveva circulava pelo salão, quando notou Carmen sentada na mesa cativa dos amigos, com uma taça de vinho à frente. Algumas vezes fazia isso, descia, servia-se de um bom vinho e ia sentar-se ali, observando o movimento. Sempre que possível, Jacinto ia ter com ela e passavam muito tempo conversando. Genoveva, raramente interrompia esses momentos, pois gostava de vê-los ali, juntinhos.

Mas agora, via que seu pai estava entretido com um cliente no balcão e, então, resolve ir até a mesa.

— Sente-se um pouco aqui comigo, Genô… pare um minuto.

Ela contorna a mesa e vai sentar-se ao lado da mãe.

— Pelo que vejo, o pai não vai se desvencilhar fácil daquele cliente. Passei lá perto agora há pouco e o papo parece que vai longe…

— Gosto de ver ele assim, Genô, entretido. Ele adora o que faz e sempre diz que ali, naquele balcão, é o seu “confessionário”.

— Ah ah ah… ele sempre diz isso, mãe.

— E pensar que eu fui totalmente contra isto no princípio, lembra? Quantas brigas tivemos, achava estarmos seguros com aquele supermercado, mas no fim, ele acabou me convencendo e realmente estava certo. Sempre foi um homem de visão, empreendedor nato. E construiu tudo isso, exatamente como havia sonhado. Estamos todos felizes aqui, filha.

— Nem sabe a satisfação que me dá, ouvindo isso, mãe.

Ela olha através das vidraças e observa o chuvisco fino que lavava os carros no estacionamento. Era uma quinta-feira fria de maio e o tempo lá fora contrastava com o ambiente aconchegante do salão. Vê ao longe, Jesus, com aquele enorme guarda-chuva, levando dois clientes até o automóvel estacionado no pátio.

— Está um pouco distraída, filha, não quer me acompanhar neste vinho?

— Agora não, mãe. Estava observando o tempo lá fora, amanhã cedinho tenho prova na faculdade e o trânsito fica péssimo com um tempo assim. Estou até pensando em subir antes para ler um pouco.

— Claro, Genô, faça isso mesmo.

Nesse instante, uma das garçonetes, parecendo muito nervosa, se aproxima da mesa.

— Desculpe interromper, dona Genô, mas é que preciso lhe contar uma coisa que ouvi.

— Calma, Clarissa, venha, sente-se aqui e me conte o que aconteceu.

— Sabe o que foi, dona Genô, é que sempre procuro fazer aquilo que me ensinou…círculo muito entre as mesas para ver se precisam de algo. E sabe, né, sempre se acaba escutando algum pedaço de conversa. E, quando me aproximei daqueles dois cavalheiros e comecei a ouvir o que ouvi, procurei disfarçar arrumando a mesa ao lado e…

— Calma, Clarissa…respire, você está muito nervosa…relaxa um pouco e me diga exatamente o que ouviu…

— Foi assim, dona Genô, um deles parecia estar muito brabo com o outro e falou assim:

— Não sei e nem quero saber o que vai fazer, Ovídio. Contrate alguém para o serviço sujo, se não tem coragem para fazê-lo… só lhe digo que quero tudo isso resolvido antes do término do semestre… sabe muito bem das consequências…

— Saí de fininho, dona Genô, e vi que deram sinal para um garçom pedindo a conta. Sei que pagaram em dinheiro vivo, então, corri para a portaria e avisei o Jesus para anotar a placa do carro deles, talvez isso ajude a identificar os caras… acabaram de sair, dona Genô…

— Pode ser os que vi, há pouco, sendo levados pelo Jesus até o carro. Mas tem razão, Clarissa, isso é conversa de bandidos, parece…

— Veja, dona Genô, o Jesus está me fazendo sinal da portaria. Vou lá ver se ele conseguiu…

Pouco depois, ela volta com um papelzinho na mão.

— Aqui está, dona Genô, a placa do carro deles.

— Tudo bem, Clarissa, vou transmitir tudo ao meu pai e ver o que ele decide. Ele tem amigos, inclusive, um deles é policial, chefe dos investigadores de uma DP. Ele poderá nos ajudar com isto. Agora, descanse. Deixe-nos resolvermos, ok?

— Obrigada, dona Genô, sei que fará o que deve ser feito.

— Genô, amanhã é o dia em que eles se reúnem aqui e o Beto é policial. Tenho certeza de que seu pai pedirá ajuda a ele. É a pessoa certa para ajudar. Se ouvi bem, existe sim, um indício do planejamento de um crime. E com data marcada. Mas, por enquanto, nada podemos fazer, minha filha. Agora, você precisa descansar. Vai, pode subir, eu vou ficar aqui esperando o seu pai terminar a conversa e explico tudo para ele. Amanhã, resolveremos isso… descanse.

Genoveva estava mesmo cansada e resolve atender a sugestão da mãe, mas antes de subir, vai encontrar Clarissa e conversa alguns minutos com ela.

Quando se inteirou do caso, Jacinto compreendeu que se tratava realmente da premeditação de alguma ação delituosa. Não deveriam de forma alguma, intrometer-se diretamente num assunto desses, que poderia trazer alguma consequência para ele ou sua família. Por sorte, um dos seus amigos era policial e, então, resolveu pedir ajuda. Tinha o seu telefone do Distrito, nem aguardaria o encontro à noite.

— Bom dia, trinta e três DP, como posso ajudar?

— Bom dia, posso falar com o detetive Norberto?

— Ele saiu em diligência, senhor, deve voltar à tarde…algo mais?

— Por favor, deixe anotado aí que o Jacinto ligou, pode ser?

— Está anotado, senhor.

— Muito obrigado, até logo.

Eram amigos desde a infância, curtiram a adolescência e juventude juntos. Há alguns anos, Beto resolvera seguir a carreira policial. Prestou concurso, iniciou seu trabalho, foi promovido várias vezes e sempre dizia para Jacinto…se precisar de algo é só me ligar. Mas em todos esses anos de amizade, esta foi a primeira vez que ele havia feito isso.

Depois de algumas horas…

— Boa tarde, Jacinto, o que foi?… só vi o seu recado neste momento… quer que eu vá até aí?

— Oi Beto, não precisa. Não queria incomodá-lo no seu serviço, mas surgiu um assunto aqui no Boteco e não temos como resolver isso. Pensei em você para nos ajudar, se puder…

— Mas, claro, Jacinto, diga lá o que quer…

Ele relata todos os detalhes para o amigo e transmite-lhe um número. era a placa do veículo.

— Muito bem, Jacinto, com isso, facilita a busca. E você disse que um deles chamou o outro de Ovídio?

— Sim, foi esse o nome. E outra coisa, a nossa garçonete disse que não aparentavam ser pessoas comuns não, estavam bem-vestidos, com terno e gravata e o veículo em que foram embora era moderno, mas não soube dizer o modelo.

— Isso não importa, Jacinto. O que interessa é essa placa que anotaram, o resto eu vou apurar por aqui. Agora, deixe tudo comigo, está bem?…logo mais à noite, conversamos, ok?

— Está bem, Beto, até lá então…

A noite chega, trazendo uma chuva fina, constante, e o vento e a umidade aumentavam a sensação de frio. Nos dias como esses, a frequência do Boteco era mais tranquila… comia-se mais, bebia-se menos chope e mais vinho. E a adega do Boteco era bem-conceituada entre os frequentadores.

A mesa dos amigos estava animada, como sempre. Tinham chegado alternadamente, reclamando do trânsito infernal da cidade e do tempo. Menos Beto, que normalmente, era um dos primeiros a chegar.

— Hoje só vou tomar vinho e vou querer aquele acarajé delicioso… diz Alemão, logo aprovado pelos outros.

Jacinto já havia comentado o assunto com todos.

— Fique sossegado, Jacinto, o Beto é competente no que faz e vai descobrir o que está acontecendo… Carlão recebe a concordância de todos.

— Mas ele está atrasado, pessoal… ele sempre vem mais cedo.

— Você não tem ideia do trânsito que está aí fora, Jacinto. Sexta-feira e ainda com essa chuva… de repente ele até resolveu não aparecer aqui hoje.

— Duvido muito, Henrique, é raro acontecer isso… ainda mais depois que eu lhe pedi aquilo…

Não demorou muito para o Beto aparecer no Boteco e, como trazia um bloco de anotações em uma das mãos… de pronto, se tornou o alvo das gozações de Carlão…

— Agora sim, hein?… temos um detetive mesmo. Com esse bloquinho nas mãos, fica igualzinho àqueles que assistimos nos filmes, perguntando coisas e anotando no bloquinho…. Ah ah ah

— Pô Carlão, grita no microfone, pra todo mundo aqui no Boteco ficar sabendo o que faço. Sabe que não quero isso, prefiro ser discreto.

— Ah, desculpe, Beto… é a euforia pela sua chegada. O Jacinto nos contou sobre aquele assunto e todos nós estávamos ansiosos pela sua chegada e saber o que apurou … .e, com um gesto simpático, coloca uma boa dose de vinho na taça do amigo à sua frente… e completa.

— E vamos levantar um brinde ao nosso valoroso amigo, em homenagem à sua luta incansável contra o crime.

Todos brindam, rindo muito da fala empolada do Carlão e o clima se torna festivo, como sempre ocorre nas sextas-feiras.

— E então, Beto, conseguiu apurar alguma coisa?

— Comecei a investigar, sim, Jacinto. A primeira coisa foi levantar a propriedade do veículo, cuja chapa me passou e, através disso, da identidade do proprietário, endereço etc., etc.

— Está em nome de uma construtora conhecida na cidade. Levantei o contrato social para identificar os proprietários ou sócios e não existe nenhum Ovídio nos estatutos, mas, quando estava quase fechando a tela da consulta, reparei num dos balanços semestrais e adivinha quem era o contador que assinou?… Ovídio Perez Martinez.

— A empresa possui quatro sócios, Jacinto, na realidade são dois casais, pois as duas esposas participam da sociedade, talvez, só figurativamente, não sei. Mandei um dos meus investigadores levantar dados das residências dos dois sócios e ele visitou os locais. Voltou tarde, por isso cheguei atrasado aqui hoje.

— Agora, Jacinto, só tem uma coisa, não sei qual deles esteve aqui ontem, com o tal Ovídio, e também não sei se esse alguém é um dos sócios ou não. Pode ser qualquer outra pessoa relacionada com esse tal Ovídio e não tenha nenhuma relação com a empresa.

Todos na mesa estavam atentos às explicações de Beto e em cada pausa que ele fazia, cada um da turma procurava dar sua própria conclusão… “pra mim, isso é coisa de uma das esposas, que quer se livrar do marido e ficar com o amante”… “que nada, acho que um sócio quer eliminar o outro”… “e se as duas esposas se uniram para acabar com os maridos para ficarem sozinhas no negócio”…

— Chega de gozações, pessoal, o caso é sério, tenho que avançar na investigação, pois há indícios de algum crime em andamento, sim.

Jacinto já nem se lembrava, mas por insistência de Fernando, foram instaladas câmeras em alguns pontos do Boteco. E uma delas, era no estacionamento.

— Jacinto, peça para a moça que os viu, para examinar as imagens de ontem à noite e ver se dá para identificar os homens. Se ela conseguir me mostrar, vou poder ir lá nessa empresa amanhã.

Logo depois, Fernando vem chamar Beto para ver as imagens. Por sorte, a porta de entrada era bem iluminada e ele pode ver, congelada, a imagem dos dois homens sob o toldo, aguardando Jesus e o seu guarda-chuva, levá-los até o carro.

— Dá para imprimir isso, Fernando?

E assim termina mais uma sexta-feira no Boteco, um pouco diferente, com a turma assumindo o papel do Watson, tentando dar soluções para o Sherlock.

No dia seguinte, embora de folga, Beto resolve ir até a construtora, situada em uma rua movimentada, bem no centro da cidade. Era sábado, o trânsito estava melhor, mas o tempo continuava ruim. Uma secretária solícita o atende.

Beto se identifica e procura conseguir a simpatia da moça…

— Aconteceu alguma coisa, doutor?

— Não, fique tranquila, é apenas um assunto policial de rotina. Mas preciso da sua ajuda para obter algumas informações, pode ser?

— Claro, doutor, o que deseja?

— Há algum diretor na empresa hoje?

— Nenhum deles costuma vir aqui no sábado…

— Agora, preciso que veja esta imagem, está um pouco ruim, mas preciso que me identifique estas pessoas. São funcionários da construtora?

— Sim, sim, dá pra ver bem… é o seu Ovídio, o contador e esse outro é o doutor Olavo, diretor de engenharia.

— Muito bem, senhorita, agora preciso que me dê o nome do outro sócio do doutor Olavo.

De posse do nome, Beto identifica o endereço da residência, levantado no dia anterior pelo seu investigador.

— Agora, senhorita, preciso de outro favor seu. Quero que faça uma ligação para ele, avisando que estou a caminho para falar sobre um assunto de suma importância.

A ligação é feita, ele estranha muito, mas acede.

— Agradeço muito a sua ajuda, senhorita. Fique com o meu cartão e, se algum dia precisar, espero que não, de ajuda policial, pode me contatar. E peço também que não comente este nosso encontro com ninguém, por enquanto, isso é vital, ok?

A residência, num bairro nobre da cidade, não ficava muito distante dali e, com o trânsito bom, em poucos minutos Beto chega a um imponente edifício, com um excelente sistema de segurança na portaria. Mas, a comunicação da secretária foi providencial, tudo já estava avisado sobre a sua chegada. Um dos porteiros o leva ao elevador social e Beto sobe até a cobertura.

Uma senhora elegante e simpática o recebe na porta, era a esposa do empresário, que o conduz a uma sala reservada, e, lendo o nome no cartão em sua mão…


— Desculpe, senhor Norberto, não esperávamos nenhuma visita hoje e o Walter estava descansando. Mas já está se arrumando e logo virá falar com o senhor. Aceita uma bebida, ou um cafezinho?

— Obrigado, senhora, se for um café, aceito sim.

Walter aparece em seguida, ainda de pijama, mas mostrando-se bastante cordial e pega o cartão das mãos da esposa.

— Desculpe o meu estado, senhor Norberto, mas é que tiro os fins de semana para descansar bastante, para compensar um pouco o trabalho durante a semana. É raro o dia em que não chego aqui em casa antes das dez ou onze horas da noite.

— Não se preocupe, senhor Walter, também faço isso. Só para constar, hoje é meu dia de folga, mas estou aqui, trabalhando, por acreditar que o assunto requer atenção…

O homem parece voltar à realidade e agora se pergunta a razão de um policial vir à sua casa, num sábado, naquela hora…

— Desculpe, senhor, tenho certeza de que deve ser importante o assunto que o trouxe aqui.

— Antes de mais nada, senhor Walter, qual é o relacionamento que tem com o seu sócio Olavo?

— Normal, senhor, temos nossas diferenças ocasionais, mas tudo dentro da esfera do trabalho. Ele é um engenheiro competente na sua área e muito útil para a firma. Mas, estranho essa sua pergunta, senhor, tem alguma coisa a haver com nossa empresa?

— Pode ser que tenha, senhor Walter. Pode me dizer se tem algo importante na empresa ou em seus compromissos particulares, que esteja relacionado com o final do semestre?

Walter fica pensativo alguns instantes…


— Só compromissos normais, senhor Norberto, agora no começo de junho vou tirar uns dias de férias com minha família. O Olavo e o Ovídio se encarregam de tudo na minha ausência, aliás, vão ter muito trabalho, pois é o nosso balanço semestral.

Começa a tomar forma na mente de Beto algumas ilações importantes que teria que checar. Bem poderia estar aí, dissimulada nessas informações banais, a real motivação daquela conversa no Boteco, ou poderia nada ter a haver com Walter e sua família, por isso, teria que ser prudente e cauteloso.

— E o senhor sempre se ausenta nos períodos de balanço?

— Tenho total confiança no nosso contador, por isso tento dar plena liberdade de ação. E Olavo sempre se dispõe a ficar nesses períodos quando aproveito para tirar minhas folgas…

— Há quanto tempo faz isso?

— Nos últimos três anos…, mas, estou ficando preocupado com suas perguntas, senhor Norberto, por acaso aconteceu algo com meu sócio, ou com o meu contador?

Beto tenta contornar.

— Não os conheço ainda, senhor Walter, mas minha ação aqui hoje é apenas preventiva, estou trabalhando com indícios, hipóteses… tenho que fazer-lhe essas perguntas… só assim posso fazer minhas deduções e, acredite, tudo poderá ser-lhe muito útil, se cooperar.

— Se é assim, pode perguntar o que quiser, vamos resolver logo tudo isso.

— Tem ou já teve alguma dúvida sobre a integridade do balanço da empresa, ou algo de que discordou ou não aprovou?

— Puxa, senhor, parece que está a par de informações privilegiadas. Mas, discordâncias quanto ao fechamento das contas do balanço são normais nas empresas. E não é diferente na nossa. Temos duas obras em andamento nos últimos dois anos que extrapolaram todos os cronogramas de custos, e, por muito pouco, não nos deixaram no vermelho nos últimos balanços. Agora, às vésperas do nosso balanço semestral, no final do semestre, alertei meu sócio que tomaremos medidas drásticas de contenção quanto àquelas obras. E falei de minha intenção de contratar uma auditoria independente para fechar o próximo balanço.

Tudo parecia se encaixar na teoria que Beto estava formando em sua mente. Todavia, ainda não desejava passar para ele a informação que tinha, que o trouxe até ali.

— E vai contratar mesmo essa auditoria, senhor Walter?

— Me convenceram a fazer isso depois das férias.

— E para onde pensa ir?

— Primeiro iríamos para um sítio no interior, que me foi oferecido pelo Ovídio, dizendo que era de um amigo e que não teria custo nenhum. Insistiu muito nisso. Mas recusei, vamos para o Nordeste, minha esposa quer ir para um lugar mais quente.

— O senhor Ovídio já tinha oferecido algo parecido antes?

— Nunca, mas reparei que ele ficou muito chateado quando recusei, até o Olavo veio me falar sobre esse sítio, dizendo que já tinha ido lá, que era retirado, tranquilo, sem vizinhos por perto, muito aprazível…

— Bom, senhor Walter, o que antes eram suspeitas, indícios, que me trouxeram até aqui… agora, com suas informações, se transformaram em algo concreto, que envolve riscos ao senhor e sua família. O que vou transmitir-lhe a seguir é confidencial, só mostrarei ao senhor. Como disse antes, minha ação aqui, é só preventiva, por enquanto, pois como policial, só posso agir diante de crime comprovado, com provas e tudo mais.

A seguir, Beto mostra-lhe a imagem da câmera do Boteco, com os dois homens na porta, abrigando-se da chuva, embaixo do toldo da entrada. Em seguida, um pequeno papel com o número da placa de um veículo e por fim, a transcrição do diálogo feito pelos dois personagens.

O homem desabou, sua face expressava a indignação, a dúvida e o horror que aquelas informações lhe causaram…

— Recomendo ao senhor que aja com naturalidade nos próximos dias, contrate em segredo a auditoria e dê-lhes carta branca para esmiuçar a fundo as contas da empresa. Com certeza, estará aí, o motivo da preocupação deles. Tudo será desnudado e eles serão desmascarados.

— Miseráveis, planejaram até me eliminar… por isso insistiram tanto para ir ao tal sítio…

— Tinham planos com certeza… e outra coisa, senhor Walter, não diga nada a sua esposa e família. Haja como lhe falei, como se não soubesse de nada e vá viajar, sim, mas para um lugar não sabido por eles. Invente qualquer outro destino. E quando voltar, tudo estará esclarecido e então, poderá acionar a polícia, que saberá como agir.

— Não sei como poderei agradecê-lo por tudo isso, senhor Norberto…

— Não se preocupe com isso, senhor Walter, a maior recompensa é sabemos que pudemos evitar a perpetração de um crime…

— Fique em paz, senhor Walter e faça como lhe disse, e se sairá bem…

Beto sai daquele prédio suntuoso e caminha até o carro, sentindo uma agradável sensação de dever cumprido. Eram poucas as vezes em que se podia prevenir a concretização de um crime. Quase sempre, era chamado a atuar quando ele já tinha sido cometido.

A chuva já havia passado, as nuvens começavam a se dispersar e o Sol começava a dominar aquela manhã de sábado. Senta-se ao volante e pensa…

… “Aquele homem nem imagina que havia sido salvo por uma simples conversa de Bar”…

… “Vou dar um pulo no Boteco do Jacinto e avisar que não era nada para ele ficar em paz”…

FIM

 

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