http://jairrosaescritor.com

A ponta do Iceberg

A euforia tomou conta do Planeta naquele ano. Afinal, não era sempre que se podia comemorar um evento especial daqueles. A centésima trigésima nona “Conferência Mundial do Meio Ambiente”. Especial, porque ia ser comemorado o aniversário de trezentos anos da primeira Conferência, que foi realizada na pré-história, no ano de 1972.

Ela foi realizada em uma cidade que nem existe mais, chamada Estocolmo, cidade que era cercada por gelo quase eterno naquela época e que hoje, pertence a um país tropical, de praias aprazíveis.

Todos os tratados de crescimento sustentável que foram celebrados até hoje, vão ser comentados. E mais uma vez, todos os países vão estabelecer novas metas de desenvolvimento e as alternativas para a prevenção de novos impactos ao meio ambiente.

Ao longo dos últimos trezentos anos, tivemos inúmeros desses “impactos”, que mudaram o modo de vida na Terra e custaram a vida de bilhões de pessoas!

Lembramos aqui, alguns deles:

● O ressecamento de lagos e rios em diversos países;

● Inversão térmica avassaladora, com surgimento de “ilhas de calor”

● Imensas áreas antes verdes, que se desertificaram e outras, como a Amazônia, que foi invadida pelo Atlântico, ficando na maior parte submersa.

● Aumento das nevascas, tufões, furacões, maremotos etc.

Presenciamos meio século atrás, o derretimento total da Antártida e quase a totalidade do Ártico, o que provocou o desastre do desequilíbrio do eixo de rotação do Planeta.

Mas, finalmente, o Homem tomou consciência do desastre e, agora, vai levar a sério essa centésima trigésima nona “Conferência do Meio Ambiente” que será realizada em uma região simbólica…será na capital da Confederação Andina, um dos poucos territórios emersos da América do Sul.

Chega o grande dia e o discurso inaugural será feito pelo Secretário Geral da União das Nações Remanescentes e vai ser transmitido pela rede mundial de difusão.

O Secretário Geral, vestido a caráter, com toda a pompa e circunstância que a liturgia do seu cargo exige, surge em meio aos aplausos da plateia. Ajusta a máscara antigases e ajeita a capa protetora de raios UV, limpa a garganta e começa o grande discurso…

Congratulo-me com todos os líderes dos Territórios Remanescentes que aqui compareceram, para firmar mais este compromisso inabalável, que vamos celebrar aqui hoje e que será o instrumento que salvará definitivamente o nosso Planeta, ou o que resta dele…blá, blá, blá…depois de uma hora e meia de promessas diversas, começa a listar as metas primordiais, inéditas, que são:

Reduzir a emissão de dióxido de carbono e metano em até 30% nos próximos vinte e cinco anos.

Reduzir o aquecimento global em pelo menos 1,5% no máximo em vinte anos.

E, nesse ponto, é interrompido pela plateia que, de pé, o aplaude por vários minutos…

Muito longe dali, em algum ponto do Ártico, um estrondo assustador ecoa na imensidão das geleiras que ainda restam. Foi um descomunal trecho da geleira que se desprendeu e afundou no mar, voltando em seguida à superfície, mostrando apenas uma pequena fração do que está embaixo.

E começa sua marcha inexorável rumo ao Atlântico, onde dará a sua contribuição para alterar mais um pouco a topografia do continente.

Entretanto, isso pouco ou nada chamará a atenção do Homem, que já presenciou inúmeros eventos como esse, e, como sempre, só vê mesmo, a parte emersa, a ponta do Iceberg.

Pouco tempo depois, quem escreveu esta crônica sofre um rumoroso processo judicial, acusado pelo absurdo de escrever histórias de “ficção científica” em pleno ano de dois mil, duzentos e setenta e dois!!!

FIM

 
 

Fale conosco

Me siga no Facebook