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FUTEBOL, POLÍTICA E RELIGIÃO

Repentinamente, alguém toca num assunto proibido pela turma, talvez, motivado pelo fato de que aquele ano, um ano qualquer em nosso país, transcorria mais um período eleitoral.

—Mas pessoal, nós já não combinamos aqui, que não entraríamos em nenhuma discussão sobre esses assuntos?

—Tem razão, geralmente sempre causam confusão e desentendimentos até entre familiares, quanto mais aqui entre nós. Cada um desenvolve suas convicções e não aceita opiniões contrárias….. alerta Jacinto.

—É isso aí, gente. Quando alguém simpatiza com algum político ou partido, começa a agir como um torcedor de futebol, não muda, fale-se o que se quiser falar, ele não muda de opinião … .diz Beto.

—Por que então, você tocou nessa droga de assunto, Carlão?

—Por causa do que venho vendo e ouvindo ultimamente. Por acaso algum de vocês já ouviu ou viu propaganda política no rádio ou na televisão?

—Minha nossa!!! Quando começa desligo ou saio do canal…diz Henrique apoiado por todos.

—É um verdadeiro desfile de horrores…

“Meu número é 6666 votem em mim e boto fogo no congresso”…

“Sou o Zé da Esquina, número 0171 vote e não se arrependerá”

“Aqui é o Dorival, o Doril da Farmácia, número 0155, lutarei por remédios baratos para todos”

—Meu Deus do céu, pessoal, até quando continuaremos assim, elegendo palhaços de circo, artistas e apresentadores famosos da televisão, cantores…não tenho nada contra esse pessoal, mas eles não farão nada lá para melhorar a nossa legislação, aprimorar nossas leis…comenta Japa

—Já que se dedicar à política hoje, deixou de ser uma vocação e passou a ser uma profissão, então eu acho que deveria ser exigido de qualquer um que se candidate, um nível mínimo de conhecimento da ciência política, ou, quem sabe, instituir um curso de formação política, ou coisa parecida, que seria obrigatório para quem quisesse se aventurar no ramo…Alemão recebe sinais de apoio em torno da mesa.

—Estão vendo, pessoal, estamos falando de política e não deu nenhuma confusão aqui…lembra o Jacinto…

—É, talvez, porque falamos “sobre” e não “de” política, Jacinto…responde Henrique.

—Ainda bem que não tocamos em religião e futebol…

—Futebol está se tornando um assunto não discutível mesmo. Sempre acaba em discussão, na acepção da palavra, melhor evitar.

—Nem pensar…mas já que filosofamos sobre política, que tal o fazermos também sobre religiões? … .desafia Carlão.

—Esse é outro assunto delicado também. O que se vê é que, hoje, você tem que pagar para rezar, em qualquer delas. Passam sacolinhas, cobram porcentagens do que você ganha, pedem depósitos em conta corrente, abertamente para os seguidores. E a coisa é feita de tal modo, que você se sente desconfortável, se não der…Japa é interrompido por dois amigos que levantam a mão…

—Mas eu dou a minha contribuição de bom grado. Sei que isso vai para as grandes obras de caridade deles…

—Viram?, num universo de apenas seis que estamos aqui, existem controvérsias…

Nisso, um som agudo chama a atenção de todos. Era Carlão, que com um garfo, batia na caneca de chope à guisa de sinete…

—Atenção, pessoal, para um anúncio importante…

Imita com perfeição a voz de um político famoso.

—Comunico a todos que hoje decidi e acabo de lançar minha candidatura para “deputado”, e, lá no congresso, lutarei por projetos que julgo serem da máxima importância para nós…

—E quais seriam esses projetos, candidato?

—O primeiro será instituir o “Bolsa Básica do Boteco”

A explosão de gargalhadas encobre a voz do Carlão, e uma voz pergunta…

—E do que consistiria essa bolsa, candidato?

—Um mínimo de seis bolinhos de bacalhau, seis acarajés, uma porção de camarão grelhado e um vale brinde, que daria direito a três chopes gelados.

Agora, as gargalhadas se generalizaram, pois além dos amigos na mesa, todos os que estavam próximos e ouviram também riam bastante. Aí, nem o Carlão resistiu e não conseguiu continuar com a farsa…quando alguém gritou e puxou um coro…

Apoiado!……….apoiado!……….já venceu!…….já venceu!….

Nem é preciso dizer que só uma boa rodada de chope é que acabou com aquela palhaçada.

FIM

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